(1) Transcrevemos o que a respeito escreveu Pedro Taques:

"Estabeleceram arraial no sítio que ao presente tempo é conhecido com o nome de - Arraial Velho e Casa de Telha - distante da vila de Cuiabá 14 dias de marcha. Nele se embarcou a gente da tropa subindo o rio Cuiabá até a barra do Cuxipó-mirim; aqui largaram as canoas e penetrando o sertão por terra romperam trilho do gentio Aripoconé que se encaminhava para as serranias e cordilheiras de S. Jeronimo.

Seguindo este trilho passou a tropa o rio Cuxipó-mirim ao pé da barra do rio do Peixe, onde toparam as rancharias do dito gentio, que aí havia conseguido uma muito grande pesca, que beneficiava secando os peixes ao sol, dos quais se aproveitou toda a tropa que por esta fartura o denominaram Rio do Peixe.

Desse lugar continuaram a marcha até a barra do rio Botuca, que tomou este nome de umas moscas grandes assim chamadas, que ferem não só aos homens como aos animais. Nesta paragem, sem os instrumentos de minerar e só com um prato de pau, no espaço de duas horas se extraíram três oitavas de ouro. Este descobrimento não impediu por então o curso da marcha intentada; moveu-se a tropa toda seguindo o trilho que lhes facilitava o encontro para a empresa.

Na madrugada do dia seguinte deram nos alojamentos do bravo gentio Aripoconé, e nesta avançada ficaram as nossas armas sem o triunfo que esperávamos, porque a força do gentio foi muito desigual ao nosso partido, ficando dos nossos 5 mortos e 14 feridos, e tão maltratados que foram conduzidos em redes para o nosso arraial.

Com este infeliz sucesso o cabo da tropa Paschoal Moreira Cabral, estranhando nessa ocasião o revés da fortuna contra o valor de sua disciplina sempre triunfante em outras ocasiões, não quis continuar com os exames para maior descobrimento, contentando-se por aquela ocasião com as três oitavas de ouro da primeira amostra.

Do arraial, onde tinha postado a tropa, aviou para S. Paulo a Antonio Antunes Maciel, dando por ele conta com a dita amostra ao general conde de Assumar, assegurando-lhe que estava a fazer rigoroso exame para descobrir minas de ouro. (segue)

Assim o fez (já depois da partida de Maciel) e não só achou ouro com abundância na passagem do primeiro descobrimento, mas também em todo o rio Cuxipó.

Antonio Antunes Maciel foi recebido com alvoroço de contentamento do general conde de Assumar, com júbilos de alegria dos moradores de S. Paulo e vilas de sua comarca, pelas quais se derramou logo a notícia de sua chegada e da nova descoberta do ouro. Sem demora, o general aplicou os meios para o regresso de Maciel, porque escreveu ao cabo Paschoal Moreira Cabral, remetendo-lhe provisão de guarda-mor para a partilha das terras minerais na forma do regulamento delas. Porém, quando chegou Maciel já as minas estavam descobertas, e dando ouro com muita abundância, concorreu logo muita gente para as novas minas pela navegação dos rios Pardo e Tietê (por falta de caminho de terra, que, com manifesto erro, afirmou Pitta no n.º 89, o general Rodrigo Cezar de Menezes mandara abrir por Manoel Godinho de Lara)".

Em seguida, narra Pedro Taques a eleição do cabo maior a que procederam para servir de governador até que esse lugar fosse provido por ordem régia.

Diz Taques que "essa eleição teve lugar no ano de 1819, tempo em que ainda não se achavam nessas minas os irmãos João e Lourenço Leme"; entretanto, o termo que segue mostra estar Pedro Taques em erro quanto à data da eleição e a ausência dos irmãos Lemes:

"Termo que fizeram os primeiros exploradores que se acharam minas de Cuiabá.

Hoje 6 de Novembro de 1720 se juntaram os moradores destas minas a praticar de que modo poderiam conquistar estas minas para exercitarem e trabalharem nelas, porquanto se acham grandes perigos de vários inimigos, tanto os castelhanos que têm suas conquistas nestas vizinhanças como também o muito gentio que são moradores nestas minas, os quais impedem, com suas mortes, (segue)

assim de brancos como de escravos, e roubos mui grandes que lhes fizeram, deixando os homens desbaratados e desunidos, sem poderem tirar ouro para pagarem os reais quintos de Sua Majestade, que Deus guarde, consultaram um cabo maior para se poderem unir e terem resistência para continuarem em boa ordem estas conquistas por ser muito do serviço de Sua Majestade, que Deus guarde, e acordando acharam os ditos moradores e povo na pessoa do capitão-mor Fernando Dias Falcão todos os merecimentos necessários e toda a capacidade e ser das principais famílias da cidade de S. Paulo, muito opulento, e haver exercitado e ocupado muitos postos no serviço de Sua Majestade, que Deus guarde, e muito fidedigno para todo o bem comum, e assim o levantamos ao dito capitão-mor Fernando Dias Falcão para nosso cabo maior, para nos governar, e reger tudo o que se oferecer do bem comum do povo e do serviço de sua Majestade, que Deus guarde, e lhe prometemos guardar toda a obediência necessária. Praticaram mais os moradores dessas minas de que sorte poderiam possuir o gentio da sua terra depois de conquistados, por serem tão desleais a seus administradores, e ajustaram de observar que, fugindo uma peça e apanhando-se em seu distrito, se tornará a entregar ao seu administrador, o qual pagará 16 oitavas de ouro, e quando seja apanhada fora do seu distrito, conforme a distância, se respeitará o achado, e quando a dita peça vá para outro distrito, será o mesmo que o seu distrito, e sendo pagem se dará 8 oitavas, e sendo em lote de gente, por pequeno que seja, se dará tempo de um ano para seu dono tornar a haver, aliás que o não haja, ficará a gente desobrigada. E também praticaram de conservar o seu guarda-mor Paschoal Moreira Cabral de seus descobrimentos, e assim mais ajustaram que o dito cabo maior obrigará todas as dúvidas que se oferecerem, assim de dívidas como de cobranças, e faltando alguma cláusula que seja necessária para o bem comum do povo e de Sua Majestade, a havemos por posta e escrita para a seu tempo se observar. E como se acabaram de ajustar, foram à pousada do dito cabo e lhe leram este termo, o qual logo lhe deram posse do dito posto, (segue)

e disse o cabo alterado que visto ser para o bem comum do povo e para o serviço de S. Majestade, que Deus guarde, que aceitava com grande gosto e que faria toda a sua obrigação necessária, bem e principalmente, assim como Deus o manda. Eu, Ignacio Preto de Moraes, como escrivão o escrevi. - João Leme da Silva, Lourenço Leme da Silva, Pedro Leme da Silva, Diogo Dias Vidigal, Antonio Ribeiro Pina, Francisco Coelho, Manoel Pereira Rios, Antonio Ribeiro de Proença, Antonio Moreira, Domingos Fernandes de Oliveira, Salvador Bicudo, Alberto Velho Moreira, João de Anhaia, Simão Rodrigues Moreira, Manoel de Oliveira Falcão, Theodozio Nobre, José Fernandes, Pedro Alves, Angelo Preto, José Antunes, Antonio Gonçalves, Manoel Garcia Velho. Ascenço Dias Leme, Domingos de Brito, João de Macedo Ribeiro, Gaspar dos Reis, Pedro Leite, José Fernandes, Antonio de Macedo, Gaspar Gonçalves Ribeiro, Bartholomeo de Brito, Francisco de Siqueira, Pedro de Godoy da Silva, Antonio de Almeida Lara, Thomé de Lara Falcão, José Paes de Almeida, Manoel Dias Leme, Antonio Antunes, Antonio de Moraes, Tristão de Oliveira, José Paes, Ignacio Preto de Moraes".

1-4 Lucrecia Moreira, f.ª do Cap. 2.º, foi casada com o capitão Nicolau Barreto, que foi o comandante da bandeira que em 1603 entrou até o rio das Velhas.
 
 

1-5 Maria Moreira casou-se com Francisco de Saavedra, natural de Castela. Com geração em Tit. Saavedras.
 
 

1-6 Anna Moreira foi casada com Roque Barreto (irmão de Francisco Barreto, que foi casado com Maria Jorge em Tit. Dias; e irmão também do capitão Nicolau do § 4.º retro).
 
 

1-7 Custodia Moreira, f.ª do Cap. 2.º, foi casada com Antonio de Oliveira Gago, natural de Santos, viúvo de Izabel Gonçalves, descendente do governador Antonio de Oliveira. Tit. Oliveiras. Foram de morada para a ilha Grande.
 
 

Domingos Rodrigues Velho fui casado com Luzia da Cunha, f.ª de João Gago da Cunha e de Catharina do Prado. V. 3.º pág. 243. Teve:

1-1 Catharina do Prado, casada em 1642 em S. Paulo com Manoel Nunes de Siqueira, f.º de Antonio Nunes e de Maria Maciel. Com geração em Tit. Macieis no V. 8.º.

1-2 Domingos Rodrigues, o moço.
 
 

Padre Garcia Rodrigues Velho, foi vigário da matriz de S. Paulo.
 
 

Francisco Rodrigues Velho, foi casado com Brigida Machado.

Antonio Rodrigues Velho foi 1.º casado com Catharina Dias, e 2.ª vez com Joanna de Castilho, falecida em 1631, f.ª de Francisco Martins Bonilha e de Antonia Gonçalves, à pág. 287 deste; faleceu com testamento em 1616 em S. Paulo, em que declarou ser cunhado(1) de Francisco Jorge, cunhado de Brigida Machado e irmão de Francisco Rodrigues Velho, seu testamenteiro, de Garcia Rodrigues e do padre Jorge Rodrigues(2). Teve da 2.ª mulher:

(1) Deve ser concunhado, porque Francisco Jorge foi casado com Izabel Rodrigues, irmã de Joanna de Castilho.

(2) Em 1614 Antonio Rodrigues Velho comprou de Claudio Furquim vários artigos para fazer entrada ao sertão.

1-1 Agostinha Rodrigues foi casada com Henrique da Cunha Lobo, f.º de Mathias de Oliveira e de Izabel da Cunha. Com geração em Tit. Oliveiras.
 
 

1-2 Garcia Rodrigues Velho foi casado com Beatriz Moreira, f .ª de Diogo Moreira, e, falecendo em 1632, a viúva passou a 2.ªs núpcias com João Pires Antunes. Teve o f.º único legítimo:

1-3 Domingos Rodrigues, que foi tutor de seus sobrinhos f.ºs do § 2.º
 
 

1-4 Margarida Rodrigues, f.ª do Cap. 5.º, estava casada com Pero de Carassa, de quem foi a 1.ª mulher, natural de Crasto, Castela Velha, falecido com testamento em 1652 em S. Paulo, f.º de Pero de Carassa, o velho, e de Catharina de Garai. Teve 3 f.ºs:

3-1 Catharina Rodrigues Carassa, falecida em 1731 em S. Paulo, foi casada com Manoel Caminha, falecido em Cuiabá. Teve a f.ª:

1-5 Izabel Rodrigues, f.ª do Cap. 8.º, foi casada com Baptista Maciel, f.º de João Maciel e de Paula Camacho. Com geração em Tit. Macieis.
 
 

1-6 Mecia Rodrigues, f.ª do Cap. 8.º
 
 

1-7 Antonia Rodrigues, última f.ª do Cap. 8.º, em 1631 já estava casada com Mathias de Oliveira, † em 1661 com testamento, f.º de Manoel Fernandes Zouro e de Julianna de Oliveira. Teve 8 f.ºs em Tit. Oliveiras.
 
 

Messia Rodrigues foi a 2.ª mulher de Domingos Gonçalves da Maia, viúvo de Izabel de Góes, f.ª de Domingos de Góes e de Catharina de Mendonça, naturais da ilha da Madeira. Teve q. d.:

1-1 Garcia Rodrigues Velho casou-se com Catharina Dias, f.ª de Domingos Dias e de Antonia Chaves. Teve:

5-5 Francisco Xavier Garcia, f.º de 4-6, foi primeiro casado com Rita Dias Fernandes, e casou-se segunda vez em 1762 em Atibaia com Marianna Bueno de Camargo, f.ª do sargento-mor Domingos Lopes de Camargo e de Maria Bueno de Lima. V. 3.º pág. 335.
 
 

(1) Francisco de Castro Pereira foi capitão da Ilha Terceira e cavaleiro do hábito de Cristo.

5-2 José Pinto de Gusmão, casado primeiro em 1751 em Guaratinguetá com Maria da Motta, f.ª de Manoel da Motta Paes e de Luzia Rodrigues Bicudo, V. 3.º pág. 83; segunda vez casou-se em 1771 nessa mesma vila com Anna Maria, f.ª de Manoel Antunes da Rocha e de Filippa da Cunha Lima. V. 3.º pág. 189. Teve q. d.:

Da 1.ª mulher:

5-5 Maria de Gusmão, f.ª de 4-3, foi casada com João Rodrigues do Prado, natural de Taubaté, f.º de outro de igual nome e de Maria Alvares; faleceu João Rodrigues do Prado em 1792, e teve (C. O. de Campinas):

5-7 Maria de Gusmão (será a mesma n.º 4-5, casada a 1.ª vez?) foi casada com Sebastião da Fonseca Pinto, f.º de outro do mesmo nome e de Maria Rodrigues. Com geração no V. 6.º pág. 69.

4-1 Antonio da Cunha Gago, casado em 1697 em Taubaté com Margarida Antunes Cardoso, f.ª do capitão Thomé Portes de El-Rei e de Julianna de Oliveira; por esta, neta de Francisco Corrêa de Oliveira, falecido em 1686 em Taubaté, e de Angela da Motta. Teve os 7 f.ºs seguintes:

4-2 Sargento-mor Miguel Garcia Velho, f.º de 3-6, foi casado com Leonor Homem de El-Rei, f.ª de Thomé Portes de El-Rei do n.º 4-1 retro. Teve q. d.:

4-4 Padre Manoel Rodrigues Velho

4-5 Maria Velho, casada com o capitão Antonio Cabral da Silva.

4-6 Martha de Miranda, última f.ª de 3-6, surda e muda, casou em 1688 em Taubaté com João Barbosa, viúvo.
 
 

1-2 Ignez Rodrigues foi casada com Barthazar de Moraes d'Antas, f.º de outro do mesmo nome e de Brites Rodrigues. Com geração à pág. 25 deste.

Agostinha Rodrigues Velho foi casada com Simão Jorge. Com geração em Tit. Jorges Velhos.
 
 

Izabel Rodrigues (cremos) foi a casada com Antonio Bicudo Carneiro, V. 6.º pág. 297; assim pensamos porque, sendo eleitos em 1573 em S. Paulo vereadores Antonio Bicudo e Simão Jorge do Cap. 10.º, foi alegado o impedimento de cunhadio entre eles. Com geração no V. 6.º pág. 297.